Jack London (1876-1916), que tentou a vida no garimpo em 1897, narra neste romance as aventuras de Buck, o privilegiado cão doméstico de uma família californiana. Em meio à febre do outro, Buck é roubado de seu ambiente e contrabandeado para o Alasca. No caminho, sofre uma série de maus-tratos, até que encontra refúgio em uma irmandade de cães e, assim como os corajosos garimpeiros, vê-se na necessidade de adaptar-se à vida selvagem. Buck entra em contato com sua natureza primitiva, em uma jornada de autoconhecimento, e redescobre seus instintos. O Chamado da Floresta, publicado no formato de folhetim em 1903, deu fama mundial a Jack London e é talvez o romance mais difundido da literatura norte-americana: entre uma e outra aventura em uma das paisagens mais hostis do globo, o leitor é levado a reavaliar seus princípios de civilidade, lealdade e liberdade.
Jack London foi indiscutivelmente superior ao escrever O Chamado da Floresta. Em sua narrativa fantástica, o conturbado momento da vida de Buck, é contado de maneira tão clara e envolvente que eu diria ser palpável. Por vezes senti vontade de esticar uma das mãos e sacudir a cabeça de Buck para acariciá-lo, da mesma maneira que às vezes sentia vontade de lhes ser indiferente por conta de suas ações maldosas.
O autor, em sua obra, não poupa personagens de seus, muitas vezes tristes, destinos. Muitos dos outros cães que Buck acaba por conhecer enquanto é contrabandeado para o Alasca, quando não conseguem rapidamente se adaptar ao seus novos tipos de vida, diria Selvagem, terminam tendo que pagar com a própria vida, pois só os mais aptos conseguem se manter aquecidos no inverno incansável de uma das partes mais frias do planeta. E Buck é jogado neste ambiente tão rápida e inesperadamente, quanto se adapta a ele e descobre suas verdadeiras origens selvagens.
A história me deixava tenso e muitas vezes triste com o que Buck passava para se adaptar à nova vida, mas eu logo era empolgado por suas conquistas merecidas. Buck me ganhou em sua trajetória e com sua força e coragem, e quando o ponto final foi colocado em sua última página, eu quis poder ler mais sobre este corajoso e insubstituível cão, e também fiquei contente com seu destino.
Os personagens descritos pelo autor, envolvem o leitor desde o momento em que surgem, e deixam saudades mesmo antes de deixarem as páginas do livro para dar espaço a um novo membro do grupo que logo ganha o apreço do leitor mais uma vez. A história de Buck é cheia de novos e antigos conhecidos que passam por sua vida e a deixam tão rápido quanto chegaram, e Buck é obrigado a descobrir da maneira mais dura possível que a morte, entre outras formas de partidas, é simplesmente inevitável, e que todos são obrigados a seguir em frente, apesar da dura realidade da perda.
Em poucas palavras: Uma obra rara. Magistral.